NA TERRA DE TAMANDARÉ



Amigos papareanos.
Em breves dias, o Tamandaré fará mais um niver. A propósito deste assunto escrevo essas mal traçadas linhas.
Pegando o gancho do faceamigo Arlindo Rodrigues Teixeira, que postou a foto de número 2 da relação apresentada a seguir, onde conforme "reza a lenda urbana" teria nascido o almirante Joaquim Marques Lisboa, marquês de Tamandaré, patrono da Marinha do Brasil, tenho a apresentar as seguintes informações.
a. Há controvérsias sobre se este imóvel tivesse realmente pertencido ao pai do almirante, o patrão-mor da barra do Rio Grande, Francisco Marques Lisboa.
b. O imóvel de sua propriedade seria em frente ao Sobrado dos Azulejos, do outro lado da rua, e não ao lado, levando-se em conta que a fachada do sobrado é onde fica a porta de entrada.
c. Há um documento assinado por Francisco Marques Lisboa, em que solicita ao governo da Província, em Porto Alegre, a instalação de um trapiche para facilitar o embarque e desembarque junto à sua propriedade situada à rua da Praia (atual Mal. Floriano). A data seria posterior ao nascimento do menino Joaquim.
d. Há dúvidas sobre o período em que Francisco Marques Lisboa foi patrão-mor da barra. Quando ele chegou aqui com sua mulher e filhos, em 1800, logo teria assumido essa função. Mas há uma carta do governador da Província do RS, almirante Paulo Silva Gama pedindo ao governo central no Rio de Janeiro a sua exclusão do serviço em 1804. A razão seriam os maus serviços prestados e enriquecimento ilícito.
e. Também é conhecido o documento em que Francisco Marques reassume suas funções, depois de apelar ao governo do Rio e conseguir sua recondução. Mas até quando teria ocupado tal cargo? Há que pesquisar isso ainda.
A pergunta que não quer calar: Joaquim Marques Lisboa teria realmente nascido neste imóvel ou do outro lado do canal, no pontal da barra, que hoje pertence ao município de São José do Norte?
Pairam controvérsias que os documentos disponíveis ainda não conseguem resolver satisfatoriamente. Há dois grupos de estudiosos discutindo isso há mais de um século. "A briga é boa", como dizia o jornalista Paulo Corrêa.
O mais influente jornal do Império e da República, o Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, apresenta o necrológico de Tamandaré, dando como nascido em São José do Norte, no 13/12/1808. Isto foi publicado em 21/3/1897, um dia após a sua morte, no Rio.
Os historiadores da Marinha, que a princípio descreveram em livros esta mesma circunstância, atualizaram seus escritos em edições posteriores mudando a informação para "nascido no Rio Grande de São Pedro", o porto marítimo.
Um deles foi Gustavo Barroso, que escreveu a biografia "Tamandaré - O Nelson brasileiro". Nas primeira e segunda edições, esta última em 1929, ele escreve à p. 10, o nascimento em São José do Norte.
Porém, na mesma biografia publicada em 1956, ele retifica, à p. 14, apontando como local de nascimento a cidade do Rio Grande. inclusive com foto da tal casa onde teria ocorrido o fato.
Há muito que pesquisar ainda, estamos recém no início do mais próximo da verdade sobre este assunto. A história é algo que se constrói dia a dia.
Fotos:
1. Rua d. Pedro II, antiga Rua da Praia e atual Mal. Floriano, em foto dos Irmãos Fontana de 1889, acervo da Bibliotheca Rio-Grandense. Mostra o prédio onde apontam teria nascido o Tamandaré, numa versão arquitetônica primitiva, em estilo colonial. Mostra também os prédios do Sobrado dos Azulejos, no mesmo estilo, antes que ambos fossem atualizados para o estilo neo-clássico, o que teria ocorrido na virada do século 19 para o 20.
2. Prédio da esquina do antigo Beco do Marques, atual Francisco Marques com Mal. Floriano atual, onde aponta a lenda urbana teria nascido o Tamandaré. Ele já havia sido reformado, do colonial para o neo-clássico, febre que alterou grande parte dos prédios da cidade na virada do século 19 e 20. Fotógrafo em pesquisa, foto compartilhada aqui do perfil de Arlindo Rodrigues Teixeira.
3. A mesma esquina atualmente, com a terceira ou talvez a quarta versão que o tal prédio sofreu, ao longo dos anos; a moda apresentada aí esteve em voga nos anos 1950/60; fotografia de Willy Cesar.
Fontes: pesquisa no acervo de jornais e livros da Bibliotheca Rio-grandense.

Comentários

Jair Ferreira disse…
Há um documento escrito de próprio punho do Marquês e que diz: “A treze de Dezembro de 1807, nasci na cidade de São Pedro do Rio Grande do Sul, em cuja Catedral recebi os Santos Óleos, pois fui batizado ao nascer por apresentar perigo de vida”. Observação: a Igreja de São Pedro não era catedral em 1807, embora o Marquês assim a designe. Somente em 1971, com a criação da diocese desmembrada da de Pelotas ela foi "promovida" a Catedral. Abração. Jair
Unknown disse…
A carta manuscrita de Joaquim Marques Lisboa, datada em 16/1/1884, quando a Camara Municipal de Rio Grande o homenageou sem que ele viesse aqui, era o agradecimento aquela homenagem. Ha a certidao de casamento dele e o depoimento manuscrito da filha do casal, que em 1925 se encontrava no Arquivo da Intendencia e Alfredo Ferreira Rodrigues o divulgou.
Entao temos tres documentos validos de epoca que apontam o nascimento na vila do Rio Grande de Sao Pedro.
Do lado dos que defendem que Tamandare nasceu em Sao Jose do Norte, tem o obituario da Marinha em 1897, publicado no Jornal do Commercio, e a biografia dele escrita por Gustavo Barroso, que se desdisse anos depois.
A certidao de nascimento ou de batismo nao eh encontrada nos livros da matriz de Sao Pedro e os defensores dessa tese dizem que "alguem rasgou a folha que a continha" e ate apontam quem foi: o historiador Edgar Braga da Fontoura. Nesse documento estaria descrito o nascimento do outro lado do canal.
Enfim, assim andam as coisas. Abs, willy

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